Seguranças de mercado com jovem torturado ameaçaram mulher negra

Ao sair de mercado, mulher foi perseguida e teve a bolsa revistada. “Quando eles falaram ‘vamos ali conversar’ tive medo de ser estuprada ou morta”

Uma mulher negra foi abordada por dois funcionários do supermercado em que um jovem negro foi amarrado e torturado por seguranças, localizado no bairro de Jardim Selma, na zona sul de São Paulo. De acordo com a advogada da vítima, Ana Paula Freitas, os funcionários apontaram uma arma contra ela. “O crime foi registrado como constrangimento ilegal, e mesmo que não possa ser tipificado como crime de racismo, as motivações foram apenas raciais”, diz a advogada.

De acordo com Freitas, a mulher entrou no mercado, pesquisou itens que desejava, mas saiu sem comprar nada. “Ao chegar na saída do mercado, pensou que se tratava de um assalto e saiu correndo, quando dois homens não uniformizados a pararam e mandaram que ela abrisse a bolsa em uma praça nas proximidades. Sem entender que se tratava de um crime de racismo, ela correu e foi alcançada. Uma mulher do ponto de ônibus disse que eram funcionários do mercado”, disse a advogada.

“Inicialmente, eu não fazia ideia que eram funcionários porque não usavam crachá nem nada que os identificassem. Pensei em correr em direção a pracinha e lá eles apontaram a arma. Entreguei a bolsa para um deles, que tirou tudo que tinha lá. Naquela hora, eu não conseguia entender que não se tratava de um assalto”, disse ao R7 a mulher funcionária pública. “Eles falaram ‘vamos ali conversar’. Fiquei morrendo de medo que eles fossem me matar, estuprar.”

Um dos funcionários, segundo a advogada, fez a revista e repetiu quatro vezes “ela não tem nada”. De acordo com o boletim de ocorrência, registrado no dia 27 de abril desse ano, ela foi abordada por duas pessoas que exigiram que ela abrisse a bolsa. Segundo o documento, ela correu por cerca de dez metros, seguida pelos homens que, após alcança-la, a seguraram pelo braço.

“Um deles apontando arma de fogo, tirou a bolsa de suas mãos e passou a revistá-la.” Após esse momento, ela que decidiu retornar ao mercado para se certificar que as duas pessoas que a abordaram eram funcionários do local.

No mercado, a vítima teria encontrado duas pessoas que presenciaram a abordagem e se propuseram a ser suas testemunhas. Segundo o boletim de ocorrência, elas poderiam constatar que os homens que a revistaram era funcionários do estabelecimento.

“Quando voltei ao mercado para saber se eram realmente funcionários, vi uma funcionária conversando com eles. Um casal que estava próximo disse que me acompanhariam à delegacia para fazer o boletim de ocorrência”, diz ela. “Pela forma com que eles me abordaram foi um crime racial. Como alguém aborda uma pessoa e tira tudo de dentro da minha bolsa. A impressão que tive foi que eles queriam que tivesse algo, que eu tivesse algo roubado algo.”

A advogada da vítima pediu que sejam juntados aos autos o nomes de todos os funcionários do local. “Nesses mercados normalmente, os seguranças são policiais militares em horário de descanso”.

Por meio de nota, o Ricoy Supermercados informou que “apura todo e qualquer caso de violência”. “Mais do que isso, sempre vai colaborar com as investigações e as autoridades para garantir que todos os fatos sejam esclarecidos. E enfatizamos que somos contrários e não compactuamos com qualquer tipo de discriminação ou violação de direitos humanos”, finalizou.

Fonte: R7

 

 

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