Sofrimento e morte. Será que não existe outro destino para personagens negros em novelas?

Por Isadora Santos

Site anuncia que Ravi, personagem de Juan Paiva na novela “Um Lugar ao Sol” da TV Globo, deve morrer no final do folhetim

O personagem de Juan Paiva na novela “Um Lugar ao Sol”, transmitida pela TV Globo, deve ter um final trágico, de acordo com a coluna da jornalista Patrícia Kogut, do jornal O Globo. Segundo a colunista, depois de uma briga feia com Christian/Renato, vivido por Cauã Reymond, vai sofrer um acidente de carro no último capítulo e provavelmente não resistirá e acabará morrendo no final da história.

O final trágico de Ravi está previsto no roteiro do folhetim das nove, mas existe a possibilidade de mudanças no futuro do personagem, considerando que finais alternativos estão sendo gravados. Finais trágicos para personagens negros costumam ser bem comuns nas novelas, assim como as costumeiras narrativas de pobreza e constante sofrimento.

Apesar das discussões que alcançam no campo social, trazidas pelo movimento negros há décadas, continuamos sendo retratados nas novelas, séries e filmes em narrativas de sofrimento, como coadjuvantes que são o principal apoio moral e emocional de protagonistas brancos e que podem ser facilmente descartados em algum momento da trama.

Em “Amor de Mãe”, novela das nove que chegou ao fim em abril de 2021, as constantes cenas de sofrimento vividas pela personagem Camila, que era interpretada por Jéssica Ellen, incomodavam o público. A personagem foi entregue pela mãe quando era criança, era odiada pela sogra, foi atropelada em uma tentativa de assassinato e ainda teve o filho sequestrado. A novela também recebeu muitas críticas pela quantidade de personagens negros que morreram ao longo da trama.

Ainda que existisse um número representativo de negros no folhetim das nove, o sofrimento e a morte deles parecia ser sempre em maior intensidade e número. Será que não existe outro destino para personagens negros em novelas?

Em “Um Lugar ao Sol”, Ravi é um personagem órfão, que viveu em um lar para crianças nesta situação. Ele foi acolhido por Crhistian/Renato e os dois se consideram irmãos. Mas diferente do que idealizamos em uma relação de irmandade, Ravi se torna motorista de Crhistian quando este assume a identidade do irmão gêmeo, antes disso, o rapaz já tinha cedido à paixão por Lara para que o “irmão”, também apaixonado pela moça, pudesse viver a relação. Ele também é confundido pela polícia com um assaltante. Não consegue manter uma boa relação com a mãe de seu filho e tem uma dura trajetória. Ravi sede, serve e vive sob a influência dos acontecimentos da vida de Crhistian/Renato. Ele chega a ser destratado algumas vezes pela esposa do amigo, agora rico e tudo por companheirismo.

Ravi deveria ser muito mais que isso. Nós somos muito mais que apoio para o crescimento de personagens brancos na ficção. Nossas histórias tem dor e sofrimento, tem morte. Mas elas tem muito mais que isso, tem amor, tem luta, tem protagonismo, destaque e tem uma comunidade inteira que está produzindo e sugerindo novas e melhores narrativas para personagens negros. Não é difícil de encontrar.

Isso só nos faz concluir que é urgente a necessidade de novelas escritas por autores negros, que pensem pessoas negras a partir de outra vivências. Não somos só dor.

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