Sonhos possíveis

Celebrar os 24 anos da revista Raça é celebrar a imprensa negra brasileira e todas as pessoas que criaram e mantém ela viva.
No ano que a revista Raça foi lançada, 1996, eu tinha acabado de tomar a decisão de trabalhar com comunicação. Ainda tinha um vestibular pela frente e muita coisa para fazer, mas, meti as caras e comecei a trilhar uma jornada que me levou a esse lugar que estou hoje: colunista da revista Raça.

Naquele ano, comecei a escrever de forma voluntária para uma revista chamada Swingando, também dedicada à comunidade negra e meu primeiro texto foi sobre o cursinho pré-vestibular promovido pelo Núcleo de Consciência Negra da universidade de São Paulo. Um curso vestibular direcionado para pessoas negras.

No dia que fui fazer a inscrição no cursinho e conheci um pouco da instituição formada por funcionários e funcionárias negras e negros da USP, estudantes e professores de lá e de outras instituições. Pensei que a história renderia uma pauta interessante, porque naquele momento, uma efervescente discussão estava circulando sobre reparação, entre elas, cotas para pessoas negras na universidade e, o cursinho era uma das estratégias daquele grupo de profissionais para incluir mais pessoas negras no ensino superior. Algo que mais tarde algumas universidades adotaram como cotas e outras políticas de ações afirmativas — todas elas defendidas e sugeridas há muitas décadas pelo movimento social negro. Pouco tempo depois, a curta reportagem sobre o curso pré-vestibular do Núcleo de Consciência Negra da USP foi publicada e a revista começou a
circular em algumas bancas de jornais. Passar na frente de uma banca de jornal e ver uma publicação de imprensa negra é algo que nos impressiona até hoje.

Banca de jornal sempre foi algo que chamou minha atenção. Não lembro exatamente quando, mas, vi outra revista que chamou a minha atenção. Foi amor à primeira vista. A capa era linda e tinha um jovem casal negro na capa. Era a revista Raça. Na hora pensei, quero escrever aqui. Ainda não era hora. Passei por outras publicações, como a revista Som na Caixa, o site Bocada Forte, o Real Hip-Hop, a revista Rap Nacional e outras publicações. A maioria delas, dedicadas ao movimento cultural hip-hop.

Foi um tempo de grandes descobertas e de muito aprendizado. Gradualmente fui me distanciando desse universo e isso também fez com que eu esquecesse aquele sonho de escrever para a revista Raça.

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Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.

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