Turbante-se
Por: Carol Barreto
A artista, designer e turbanteira baiana THAÍS MUNIZ, natural de Feira de Santana, tem, através dos tecidos, performances, artes visuais e direção para fotografia e vídeo, vivenciado inúmeras nuances da sua pesquisa sobre a história, os significados e ressignificações dos turbantes e amarrações de cabeça na afrodiáspora. Em 2012 criou turbante- se, plataforma de produção e difusão de conhecimento, que propõe um olhar mais demorado sobre esse símbolo, utilizando diversas linguagens e mediums que incluem workshops, palestras, registros audiovisuais e outros.
O Turbante-se nasceu como Workshop de Turbantes por Thaís Muniz, a partir dos recorrentes pedidos de pessoas conhecidas, e mesmo desconhecidas, sobre as formas de uso e amarração daquele adorno, que Thaís costumava trazer, corriqueiramente, na cabeça. A partir do primeiro workshop, em 2012, em Salvador, que tratou apenas da parte prática, a artista se deparou com uma quase ausência de bibliografia sobre o tema.
“Antes de nascer como Turbante-se, na minha cabeça a parte de pesquisa histórica seria muito simples, afinal, pra mim, os turbantes são tão icônicos que, com certeza, alguém já teria se dedicado a pesquisar sobre eles na história do Brasil. Encontrei pouco numa busca no Google, e esse foi o começo de uma pesquisa autoral, de conectar pontos históricos para que eu pudesse criar uma narrativa, a qual conduzisse à história que eu queria saber para contar”, explica.
Suas andanças e vivências moldaram os primeiros passos da pesquisa, a partir de conversas com algumas mulheres referência nesse tema, a exemplo de Negra Jhô e da estilista Dete Lima, uma das fundadoras do Ilê Aiyê, bem como pesquisa de campo com mulheres africanas, nigerianas, senegalesas, ganesas, martinicanas, jamaicanas, angolanas, moçambicanas, além de muçulmanas de vários países, rastafáris, mulheres da santeria haitiana, cubana e, claro, as mais próximas do seu cotidiano, como as baianas de acarajé e as Iyalorixás, Makotas e Ebomis. As conversas, inclusive, estão registradas e a ideia de Thaís é produzir uma exposição, um documentário e também um livro, “escancarando” tudo o que o turbante representa através das suas formas de comunicação não verbais, suas ressignificações na diáspora e sua importância para a estruturação de uma sociedade antirracista decolonial. Turbante-se é, essencialmente, uma plataforma de pesquisa e difusão da história e significados dos turbantes nas diásporas afro-atlânticas a partir de um mapeamento dos “porquês”, quando e como esse ícone, tão simbólico e tão antigo, foi introduzido na África, ressignificou-se e foi introduzido nas diásporas.
A artista aponta que, dentro do vasto universo de simbolismos e significados que os turbantes carregam em si, abrangendo inúmeras culturas no mundo, existe uma relação especial que tem sido vivenciada e ressignificada para pessoas negras da diáspora, essencialmente para as mulheres, como parte do processo decolonial.
“Esse novo trabalho vem acompanhado de uma missão que se alia à militância, em primeira instância, estética. O adorno se posiciona como porta de entrada para criação de diálogos sobre autocuidado, valorização e não invisibilização do self e a elevação da autoestima sobre o pilar de estéticas afrocentradas, permeadas por história, arte, memória, tradições, economia, ancestralidade. Além do exercício das subjetividades no fazer de micro e macro políticas”, defende.
Seu trabalho estabelece um trânsito, que permite o intercâmbio entre culturas negras de um país novo e em desenvolvimento, inclusive identitário, como o Brasil, com a aglutinação de etnias e culturas do continente europeu – por morar há quase cinco anos entre a Irlanda e o Reino Unido, e os fluxos e refluxos sobre uso e desuso do adorno no continente africano. Desde o início do projeto, Thaís teve mais de 3 mil alunas e inspirou a criação de negócios próprios e marcas, aos moldes do Turbante-se, o que denota um diferencial de ter agregado em si todo um conteúdo histórico, cultural e mesmo ancestral. E, para além da lógica mercadológica e mesmo empreendedora, deu origem a um novo verbo: Turbante-se, um “neologismo-convite”, que já tem incontáveis menções na web.
“Através do meu trabalho, consigo me comunicar com outras mulheres negras, de uma forma bem direta, sobre a necessidade de empoderamento político, inclusive a partir da perspectiva uma estética afrocentrada que permeia inúmeras memórias”, enfatiza.
Sua pesquisa já foi apresentada em importantes instituições pelo mundo e em julho estará na 7ª Conferência Bianual da Rede Afroeuropeans “In/ Visibilidades Contestadas”, em Lisboa. Palestras e workshops foram realizados em Barcelona,] Madri, Rotterdam, Amsterdam, Lisboa, Berlim e Freetown, em Serra Leoa, onde a artista, inclusive, desenvolveu sua última coleção de lenços para turbantes em parceria com alfaiates locais. Thaís também foi uma das artistas convidadas para integrar a exposição coletiva “Axé Bahia: The Power of Art in an Afro-Brazilian Metropolis”, no Fowler Museum em Los Angeles, ao lado de obras de Mestre Didi, Rubem Valentim, Pierre Verger e Goya Lopes, entre outros, onde a artista ainda ministrou palestra. A experiência in-progress tem transitado por inúmeras esferas sociais, que vão de quilombos a feiras especializadas na Europa, escolas primárias de Salvador e espaços culturais de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, festivais de arte ao redor do mundo e ações de resgate da autoestima de mulheres com câncer em instituições como o Hospital Aristides Maltez (Salvador) e a Faculdade das Américas – FAM/SP.
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