Zeca Pagodinho terá sua história contada em filme que inicia as gravações no segundo semestre de 2024
Há pouco mais de cinco anos, Roberto Faustino leu o livro “Zeca: Deixa o Samba Me Levar”, escrito por Jane Barbosa e Leonardo Bruno. Ele soube, desde então, que os causos, a carreira e a vida do cantor de samba mereciam ser levados às telonas do cinema.
Muitas conversas com Zeca Pagodinho e Jane, anos de pesquisa no subúrbio da zona norte do Rio de Janeiro e uma pandemia depois, o filme “Deixa a Vida Me Levar” começará a ser produzido em 2024 — e, segundo as expectativas de Faustino, filmado entre agosto e setembro deste ano.
Com produção de Roberto Faustino e Marco Altberg, o longa será distribuído pela Paris Filmes.
O roteirista e co-produtor explicou, em entrevista à CNN, que o filme é uma “ficção que abraça a realidade”.
“Fiz questão de fazer ficção, porque as histórias são tão incríveis que eu pensei: não tem que reconstituir, tem que dramatizar isso aqui. Não dá para alguém ficar falando o que aconteceu exatamente, esse é um mundo de ação, não é um mundo de palavra”, disse Roberto Faustino.
Ele explicou que o momento atual é de finalizar o roteiro junto ao diretor do longa, Mauro Lima, e se preparar para os testes de elenco e escolhas de locação — já que ambos prometem ser um desafio.
Faustino explica que dois atores diferentes devem ser escolhidos para interpretar o Zeca, de forma a retratar os diferentes períodos de sua vida.
“Tem que ter o jeito de falar, o jeito de cantar, aquele jeito de andar. O Zeca é muito peculiar, né? Então você tem que vislumbrar um ator que tenha tudo isso, que tenha intimidade com a música, que tenha intimidade com o samba, que tenham intimidade com o jeito do Zeca tocar a vida, e depois partir para um laboratório para ele se transformar, de fato, em Zeca Pagodinho”, explicou Faustino.
Segundo ele, ainda não há nenhum nome confirmado para o elenco.
Já com as locações para filmar, o desafio é outro: filmar na zona norte do Rio se mostra quase impossível por questões de logística. “É provável que a gente busque locações que sejam muito similares, para que a gente possa representar o subúrbio do Rio de Janeiro dos anos 1980, 1990 e do início dos anos 2000 em alguns lugares em que seja mais fácil produzir”, acrescentou.
Um “zoom” na vida de Zeca
Segundo Faustino, o filme deve passar por outros períodos, mas dar um enfoque maior para o início da carreira profissional de Zeca Pagodinho — do final dos anos 1970, passando pelo lançamento de seu primeiro álbum e seu casamento com Mônica Silva, até o final dos anos 1980.
“Quando você faz uma biografia para o cinema, você tem que fazer um zoom, né? Você tem que fechar em algum lugar, porque se fosse contar a vida toda do Zeca seria uma novela, no mínimo uma série”, disse Faustino. “Então a gente tem que fechar em algum período específico que seja representativo do perrengue, da vitória, das dificuldades, dos amores, das conquistas, dos fracassos, do sucesso.”
Apenas no fim do filme imagens mais documentais devem ser usadas, para retratar momentos que fogem deste recorte temporal, mas são icônicos, como: o auxílio do cantor às vítimas de enchentes em Xerém, em 2013; “Deixa A Vida Me Levar” escolhida como o samba do penta na Copa de 2002; e o desfile da Grande Rio que homenageou Zeca em 2023.
Escrever letras de samba
No início da carreira, Zeca não queria ser cantor, muito menos imaginava ser famoso.
“Ele tinha muita habilidade com os versos no partido alto e tinha muita habilidade com a letra das músicas, tanto que as pessoas começaram a levar harmonias e músicas compostas para ele colocar letra”, explicou. “Então ele vai acumulando ao longo do tempo muitas músicas que ele compôs, e de repente, quando ele finalmente aceita ser cantor, foi gravar o primeiro disco e ele tinha um monte de sucesso na gaveta, e todos explodiram, né?”
Um dos pontos altos do filme, garante Faustino, é justamente a representação do partido alto: “O partido alto acabou sendo menos conhecido no Brasil do que o pagode, mas é uma coisa muito importante porque você improvisa. Não são músicas compostas, são versos improvisados o tempo inteiro, como se fosse um duelo, um desafio. E o filme começa com um desses desafios, e termina com um desses desafios.”