A cantora e atriz Rosa Marya Colin | Ilustração: Robério Gonçalves
A década era a de 1980. A palavra da moda era “importado”. Ser nacional fazia consumidores de todas as idades torcerem o nariz para qualquer tipo de produto. Talvez por isso a agência de publicidade tenha escolhido para a trilha sonora do comercial de uma das maiores redes de roupas do mundo, chegada ao Brasil em 1976, aquele sucesso do grupo The Mamas and the Papas, de 1965. A novidade, porém, era a intérprete, uma cantora e atriz mineira de Machado, chamada Rosa Maria. A partir daquela trilha, ela se revelou uma jazz singer reconhecida internacionalmente, com uma vendagem de 350 mil cópias de seu LP “California Dreaming”, produzido por Zé Rodrix.
A cantora e atriz mudou seu nome para Rosa Marya Colin. Em nossa memória ainda vibra sua imagem de cabelos black power, entre os jovens rebeldes na primeira montagem do espetáculo teatral Hair, no paulistano teatro Aquarius, em 1969, em plena ditadura militar. Uma constelação de três estrelas afrobrasileiras: Rosa, Sonia Braga e Neusa Borges. O que os anos não foram capazes de mudar foi seu sorriso constante, a simplicidade no convívio, o olhar sempre vivo e vibrante de menina, a fala doce num volume que revela uma calma permanente da garota que se apresentou em público pela primeira vez, em 1963, no programa Hoje é dia de Brotos, da rádio Tupi, do Rio de Janeiro.
Da Tupi para a Mayrink Veiga, e desta para a TV Rio, nos programas Festa do Bolinha, Rio Hit Parade, Flávio Cavalcante, Almoço com as estrelas e Embalo, do maestro Erlon Chaves. O primeiro convite para gravação foi participando do LP “S‘imbora”, de Wilson Simonal. Era menor de idade e teve de ser emancipada para participar dos shows de lançamento. Estava na hora do primeiro compacto duplo – um disquinho com quatro canções. O som era todo bossa nova, mas tinha um hit internacional: Hello Dolly. No ano seguinte, seu primeiro LP, “Uma Rosa com Bossa”, lhe rendeu o prêmio revelação de 1966.
Rosa Marya Colin brilhou também no cinema | FOTO: Digulgação
Estava na hora de se mudar para São Paulo. Como uma boa moça solteira daquela época, vivendo sozinha, foi morar num pensionato. Brilhou no Esta noite se improvisa da TV Record. E estreou no cinema em “Compasso de Espera”, de Antunes Filho, protagonizado pelo saudoso Zózimo Bulbul. As fronteiras brasileiras não poderiam conter uma pessoa como ela, que nasceu com a estrela do jazz a nortear-lhe o destino. Por isso, voou em 1971 para o México, onde permaneceu por um ano e de lá partiu para shows nos EUA e na Europa. Na volta, três anos depois, inaugurou o Club de Jazz Opus 2004, onde ficou em cartaz por quatro anos.
Rosa abriu a década de 1980 lançando o álbum “Céu Azul” e fazendo shows por todo o País. A turnê só foi interrompida pelos convites para se apresentar na Temporada de Jazz e Blues de Los Angeles e no Le Chansonier, de Paris. Na volta, já estava com tudo pronto para lançar “Vagando”, pelo selo Eldorado e, depois, “Garra”, pelo selo Pointer. Retornou à França para se apresentar no teatro L’Opera de Paris. Na volta, lançou “Cristal” e, no ano seguinte, “Sings the blues”. A saudade do palco teatral a faz aceitar o convite para estrelar o espetáculo musical “Noviças Rebeldes”. Só se afastou da montagem para participar do festival da canção em Buga, na Colômbia. Foi classificada com a interpretação à capela “Calix Bento”, uma adaptação de Tavinho Moura de uma canção de Folia de Reis. Venceu a final, com “Viagem”, de Taiguara, que encerra com “…o mundo inteiro vai ser teu, teu, teu”. Dama do disco e dos palcos, gravou “Rosa in Blues” e percorreu o País com o show homônimo. Depois vieram mais três discos: “Fever”, “Cores” e “Harlem”, este último, só com spirituals. Suas apresentações nos EUA arrebataram elogios de Stephen Holden, crítico do New York Times, que a comparou a cantoras como Tina Tuner e Chaka Khan. Na Globo, ela já foi Nossa Senhora Aparecida em “Hoje é dia de Maria 2”, Balbina em “Sinhá Moça”, Tia Nastácia em “Sítio do Pica Pau Amarelo”, Aurora em “Ciranda de Pedra”, Irmã Frida em “Xuxa e as Noviças”, mãe de santo em “Força-Tarefa”, Antônia em “Paraíso”, Irmã Calvário em “Ti ti ti”, Zilá em “Fina Estampa”, e Mãe Bia em “Subúrbia”. Mesmo no inverno, a carreira de Rosa Marya Colin estará sempre quente e segura, como profetizou a canção “California Dreaming”.
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