A carreira do sambista Dicró
Conheça a carreira do sambista Dicró, que leva o bom humor para o samba
TEXTO e Ilustração: Leandro Valquer | Adaptação web: David Pereira
Se existe sarcasmo, sacanagem e bom humor no samba, Dicró foi a mais perfeita encarnação, com o seu deboche escrachado que satiriza até a si próprio e, principalmente, a fina figura bem acabada da estereotipada malandragem: “Sou feio, mas dou Ibope”, explica. Enfim, tudo o que Dicró toca, dá samba e comédia das boas.
Dicró – nome artístico de Carlos Roberto de Oliveira – vem da maneira criativa de como o sambista assinava suas composições usando as letras iniciais do seu nome CRO (a sigla de Carlos Roberto de Oliveira). Então de orelha em pé, o pessoal perguntava: “De quem é esse samba?”. “Ah, esse samba é de CRO, de CRO pra lá, de CRO pra cá, a preposição ‘de’ acabou fundindo-se às iniciais. Dito e feito, ficou Dicró.
Filho de renomada Yalorixá (organizadora de suntuosas festas na quebrada, frequentadas por ninguém mais, ninguém menos que Elza Soares, Sérgio Fonseca, Zeca Pagodinho, entre outras sumidades), o artista passou a infância em Mesquita, cidade da Baixada Fluminense.
A primeira gravação de um samba de sua autoria, Samba no Sofá, aconteceu em 1976, na voz de Roberto Ribeiro. A obra é uma parceria com Geraldo babão. Dicró pertenceu a ala de compositores da Beija Flor de Nilópolis e da Grande Rio, classificando, em 1983, a escola em 9º lugar no grupo especial com o samba enredo No mundo da lua. Frequentador assíduo do Piscinão de Ramos, no subúrbio do Rio de Janeiro, recebeu do povo o título de Prefeito do Piscinão, por ser o principal incentivador das obras feitas na praia. Lá, ele mantém um trailer que funciona como ponto de encontro de sambistas. Em 1978, lançou Barra Pesada, seu primeiro disco. Sucesso de crítica e público surpreende e agrada pela ácida veia humorística, onde evoca lugares como a praia de Ramos e personagens como políticos, ex-mulher, sogras, bandidos e outras figuras tipicamente cariocas. O segundo disco, Dicró, fez sucesso nas rádios brasileiras, principalmente o samba Olha a Rima, que caiu na boca do povo em 1980.
Outro disco clássico que Dicró participou foi Os 3 malandros, in Concert, o grande encontro entre Moreira da Silva, Dicró e Bezerra da Silva, um trio elétrico de dar nó em pingo d’água. Os três parodiaram e esculhambaram o canto lírico da aristocrática cultura européia, na figura dos três tenores: Luciano Pavarotti, Plácido Domingos e José Carreras. Bom demais! Vale a pena confirir.
Quer ver esta e outras matérias da revista? Compre esta edição número 151.