Autocuidado: a importância de lembrar de si mesma

[TEXTO EDIÇÃO 229]

A luta das mulheres abriu oportunidades para o debate sobre a igualdade de direitos e sobre como precisamos adotar práticas de autocuidado para viver com mais dignidade.

Em um modelo de sociedade fundamentado a partir de ideias racistas e machistas, o cenário em que mulheres negras ocupam diferentes funções, incluindo aquelas funções não são consideradas subalternizadas, incomoda quem não está a fim de contribuir com a luta pela igualdade de direitos.

É também nesse cenário, inóspito, que o autocuidado e a preservação da saúde mental e física voltado para esse grupo deve ser prioridade. Simone Cruz, psicóloga e integrante da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) reforça a importância do autocuidado entre as mulheres negras.

A profissional explica que o “autocuidado é sinônimo de ‘cuidar de si”. Refletir sobre isso para as mulheres negras sempre foi uma realidade distante na medida em que, ao longo da história, as mulheres negras foram cuidadoras de outras pessoas e exerceram, sem possibilidade de escolha, a maternidade. Essa condição
histórica que se perpetua ao longo dos anos, pois não é ao acaso que a maioria das trabalhadoras domésticas são mulheres negras, as coloca sem a possibilidade de sequer pensar sobre si, pois nunca lhes foi permitido ‘tempo’ para isso”, explica.

Simone explica que o autocuidado inclui a questão estética, mas que o debate deve sair do campo individual para alertar sobre as necessidades de cuidados e políticas públicas ligadas à saúde mental, física e ao bem-estar que grupos minoritários requerem. “O autocuidado por meio da estética, como obter tempo e possibilidades de cuidar do cabelo e da pele são importantes e significativos, pois com isso estão dedicando um tempo para si. No entanto, o conceito de autocuidado na perspectiva a que estou me referindo aqui vai para além disso, significa um cuidado com a saúde mental, com a possibilidade de ser compreendida em suas reais
necessidades, através de uma escuta qualificada, sem julgamentos. Com isso entendo que podemos resumir
o autocuidado como ter qualidade de vida. Assim, entendo que o autocuidado não depende unicamente da pessoa, mas sim de um conjunto de ações que garantam a sua saúde e bem-estar
social”.

Parar um minuto na loucura da rotina de trabalho, filhos, pais, irmãos e da militância combativa para cuidar do próprio corpo e da mente é essencial. Especialmente para as mulheres negras. A sociedade não estimula nossas vaidades, não se importa com nossa beleza. Então que nós comecemos.

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