CARAVANA DA UNIÃO DA JUVENTUDE SOCIALISTA – PARTE 2
Confira a continuação da reportagem sobre a caravana “Lutas que construíram o Brasil: da Coluna Prestes à Guerrilha do Araguaia” realizada pela União da Juventude Socialista
TEXTO: Rafael Minoro | FOTOS: Léo Souza/A Firma | Adaptação web: David Pereira
Leia a parte 1 da reportagem sobre a caravana da União da Juventude Socialista. Confira a segunda parte:
A maioria dos caravaneiros encarou um ônibus que partiu de São Paulo por volta das 18h30 do dia 15 de abril de 2014 e chegou a Brasília na manhã seguinte. Na capital federal, pessoas de outros estados, como Minas Gerais e Espírito Santo, embarcaram no ônibus e a viagem continuou rumo a Palmas. A caravana só chegou ao seu destino à meia noite do dia 17. O percurso inteiro durou longas 29 horas.
Palmas é uma área de extrema relevância estratégica por estar localizada no centro do país, fazer divisa com estados do norte e nordeste, ser banhada pelo rio Tocantins, o segundo maior do país, e ter em sua seiva a luta do povo brasileiro. Não por acaso, a Coluna Prestes, uma epopeia de 25 mil quilômetros, a maior marcha político-militar já registrada no mundo, escolheu a região como parte do trajeto. Na primeira atividade do projeto, o auditório do museu Palacinho, primeira edificação construída na cidade, foi tomado por autoridades políticas, lideranças comunitárias e,principalmente, parte dos jovens caravaneiros que já estavam na cidade.
O senador pelo Partido Comunista do Brasil do Ceará (PC do B-CE), Inácio Arruda, primeiro comunista eleito para este cargo depois de Luiz Carlos Prestes (o comandante da Coluna), foi um dos convidados. Conhecedor e estudioso da história das lutas populares do Brasil, Arruda desenhou em seu discurso uma linha do tempo desde antes da Coluna Prestes, passando pela Guerrilha do Araguaia e outras revoltas, até chegar à eleição de um governo progressista em 2002. “Foi-se o tempo do Brasil de Bernardes, de Washington Luís, do regime militar, de Collor, de Fernando Henrique. Um Brasil de uma elite econômico-financeira, e política por consequência, desinteressada do país, do povo,do futuro, e concentrada no seu imediatismo voraz e insaciável”.
Já no dia 17 de abril, segundo dia de atividades, os jovens caravaneiros presenciaram uma palestra com a neta de Luiz Carlos Prestes, a socióloga Ana Maria Prestes, e o professor licenciado em história e mestre em Patrimônio Cultural, Amilcar Guidolim Vitor. A caravana ainda visitou o Memorial Coluna Prestes, localizado na famosa e gigantesca Praça dos Girassóis, a maior da América Latina e a segunda do mundo. O museu guarda algumas raridades como armas usadas nas batalhas e um lenço de Prestes, além de fotos e outros objetos doados pela família, como Luiz Carlos Preste Filho.
Já do lado paraense do Rio Araguaia, os 40 jovens começaram a reviver Sônia, Raul, Osvaldão, Arildo, Grabois, Áurea, Amaury, Queixada, Dina e tantos outros guerrilheiros do Araguaia. Santa Cruz dos Martírios é um local de difícil acesso, com uma população cuja vida está irremediavelmente ligada ao seu meio. São camponeses, lavradores, pescadores e vaqueiros dentre as 47 famílias e 150 pessoas registradas pela Agência Municipal de Saúde.
A escolha do Partido Comunista do Brasil em se fixar nessa terra, no entorno do vale do baixo Araguaia e curso médio de Tocantins, deu-se por fatores militares e políticos. A região é coberta de mata fechada e dificultava a ação das Forças Armadas; tinha tendência a se tornar bastante povoada por camponeses pobres, pois muitos lavradores expulsos de outros lugares já rumavam para a região e podiam juntar-se aos guerrilheiros, que elaboravam um trabalho político e social junto à população.
Em Santa Cruz dos Martírios é fácil encontrar pessoas de outros estados, como Minas Gerais, Bahia e Maranhão. A faixa etária que predomina na região é a idosa, o que significa que muitos moradores fotografaram com as próprias retinas a Guerrilha do Araguaia. A caravana lançou no vilarejo o documentário “Araguaia: Campo Sagrado”, do diretor Evandro Medeiros. O filme foi rodado em cidades próximas, como Xambioá e São Geraldo do Araguaia, e foi lançado em 2011. A narrativa aborda a Guerrilha a partir de relatos de camponeses e mateiros que sofreram tortura e violência por parte do exército e foram obrigados a ajudar nas rondas pelas matas à procura dos guerrilheiros.
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