EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE QUILOMBOLA KALUNGA
Pela primeira vez, alunos se formam no ensino médio na comunidade quilombola Kalunga, em Goiás
Texto: Denise Pires | Foto: GuanabaraTejo | Adaptação web Sara Loup
O lavrador Serilo dos Santos Rosa, de 57 anos, é analfabeto, mas doutor em solidariedade. No dia daformatura do ensino médio de três de seus nove filhos, sua maior preocupação era que a Educação chegasse a todas as comunidades quilombolas do Brasil. “A gente se sente discriminado. Temos que deixar de ser este corredor da miséria. Esta imagem tem que desaparecer. Por isso, rezo para que esta oportunidade chegue a todos os quilombos brasileiros.
”Sábio, com um conhecimento sobre a vida que não se aprende nos bancos escolares, Serilo reconhece que só com a Educação é possível mudar a realidade de locais tão isolados como a comunidade Kalunga, em Goiás, onde a escola chegou na década de 80 e a luz elétrica em 2004, onde os moradores trabalham horas na roça para garantir seu sustento e muitos apostam no estudo como base fundamental para um futuro melhor, desde que esse futuro também beneficie o local que vivem.
Nesse quesito, os irmãos Damião, Natália e Evânia já fazem parte da história de Kalunga, a maior comunidade quilombola do país. Eles integram a primeira turma que se formou no ensino médio, em um lugar que, durante séculos, viveu à margem da Educação. Filhos do Seu Serilo, todos pensam em seguir profissões que podem beneficiar a comunidade em que vivem.
Damião, de 27 anos, quer estudar Administração para conseguir levar adiante o seu projeto de aluguel de bicicletas para os visitantes. A idéia é impedir que os turistas tentem chegar às cachoeiras de carro. “Tenho preocupação com o meio ambiente”, afirma.
Natália, de 22 anos, quer fazer medicina e voltar para a comunidade. Ela conhece as necessidades de Kalunga (hospital não existe e para cuidar da saúde da população, apenas um posto de saúde com atendimento médico uma vez por semana. A caçula, Evânia, de 19 anos, sonha em ser atriz. Quer trazer o colorido de um palco para Kalunga, também carente de cinema, teatro, museu, nem nada que lembre uma atividade cultural como a conhecemos nos grandes centros urbanos. O pai, Serilo, fala com orgulho. “Ninguém toma deles a educação!”.
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