ESPETÁCULO BENÇA
Teatro Olodum mistura espiritualidade e cultura no espetáculo Bença
Texto: Oswaldo Faustino | Foto: Divulgação | Adaptação web Sara Loup
O pedido de benção de crianças e dos mais jovens aos mais velhos é um costume que está desaparecendo rapidamente, em especial nos grandes centros urbanos brasileiros.
A maioria de pais acha “moderno” serem chamados de “você” e dispensa esse tipo de cumprimento e de relacionamento considerados arcaicos.
É esse o tema central do espetáculo Bença, com o qual o Bando de Teatro Olodum comemora os 20 anos da criação dessa companhia teatral baiana, cujo elenco é composto, exclusivamente, por negros e negras. Uma negritude que se estende ao diretor teatral, cenógrafo e figurinista Márcio Meirelles e a sua assistente e diretora em algumas montagens Chica Carelli, ambos de origem europeia. Gestada durante 10 anos, a montagem atual do Bando, chamava-se inicialmente Respeito aos mais velhos (que virou um sub-título) e partiu de entrevistas realizadas pelo grupo com personalidades emblemáticas da Bahia, como o músico e repentista Bule-Bule, o percussionista de orquestra Cacau do Pandeiro e as guardiãs da cultura e da religiosidade afro-baianas Dona Denir, Ebomi Cici, Makota Valdina e Mãe Hilza.
Como sempre inovador com a coregrafia assinada pelo bailarino Zebrinha, músicas de Jarbas Bittencourt e a iluminação de Rivaldo Rio o Bando rompe com a liguagem teatral convencional e parte para uma interação entre os 19 atores e dois músicos com as personalidades entrevistadas, cujos vídeos são projetados tanto em telões laterais quanto no centro, no piso do palco. O resultado final é uma vibrante instalação multimídia que fornece ao público elementos para cada qual ir tecendo sua própria visão e concepção do espetáculo. Chica e Márcio, mais que diretores, funcionaram como maestros de uma grande orquestra de improvisadores bastante criativos.
O espetáculo se pauta na passagem do tempo e no envelhecimento, ressaltando a importância do saber envelhecer bem, de maneira saudável, física e espiritualmente, sem se apartar da própria história e da cultura de seu povo. No final, a gente esquece que a maioria das atrizes e atores é de jovens. Para o público comovido tornam-se a própria personificação dos ancestrais. Aí, não dá mais pra segurar o pedido: “A Bença, Bando de Teatro Olodum!”
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