Filme de Marlon Brando sobre a história do Haiti
Oswaldo Faustino escreve sobre o filme “Queimada”, inspirado na história do Haiti e protagonizado pelo ator Marlon Brando
TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTO: Reprodução | Adaptação web: David Pereira
Lançado em 1969, o filme dirigido pelo italiano Gillo Pontecorvo – o mesmo de A Batalha de Argel – mostra um Marlon Brando comprometido com lutas que desafiavam as tendências hollywoodianas de heroificar os brancos americanos ou ingleses, enquanto os demais povos são sempre os vilões.
Em “Queimada”, Brando interpreta o agente inglês Walker, enviado às colônias espanholas e portuguesas do Novo Mundo para pregar a nativos e escravos, a revolta contra suas metrópoles, com ajuda financeira da Inglaterra. Rodado em inglês, o longa foi lançado em dublagem em português, com alguns pequenos erros, como do personagem vivido pelo ator afro-colombiano Evaristo Márquez, que deveria chamar-se José das Dores, e foi traduzido como José Dolores, em espanhol.
Inspirada na história do Haiti, a trama transcorre na ilha fictícia de Queimada, nas Caraíbas, grande produtora de açúcar que seria uma colônia de Portugal, em plena rebelião de escravizados. A missão de Walker é oferecer ao líder o apoio britânico, mas chega tarde e esse personagem já foi preso e executado. O agente inglês, então, resolve “forjar” um novo líder e se lembra de José Dolores, o negro forte e altivo que, em sua chegada ao cais, enquanto todos imploravam para que o deixassem servi-lo em troca de moedas, aproximou-se dele e disse: “Your bags, sir! (Sua bagagem, senhor!). Começa, então, a incutir ideias libertárias e de protagonismo no negro que acaba liderando a rebelião vencedora.
Você pode pensar: o cinema sempre heroificando o branco… Não fosse Walker, Dolores não se tornaria líder… Ledo engano, se tornaria, sim!. Tanto que ascende ao poder e, 10 anos depois, Walker retorna a Queimada para financiar sua deposição, encarceramento e execução, pois Dolores já não interessa mais à Inglaterra. E o agente novamente irá ouvir o altivo: “Your bags, sir!”. O que não imagina é que o espírito libertário de Dolores já contaminou seu povo. Um filme para ver e rever muitas vezes.
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