Luiza Trajano: “Sem diversidade nas empresas, não há renovação”
Presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, uma das maiores redes de varejo do Brasil, Luiza Helena Trajano, empresária e advogada, foi responsável pelo salto de inovação e crescimento que colocou a empresa entre as maiores varejistas do país. Também atua como conselheira em 12 diferentes entidades, como o Instituto para Desenvolvimento do Varejo, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Unicef e o Grupo Consultivo do Fundo de População da ONU no Brasil. Foi eleita Personalidade do Ano de 2020 pela Câmara do Comércio Brasil-EUA. Em sua trajetória, vem sendo reconhecida e recebendo centenas de premiações. É a única executiva brasileira na lista global do WRC — World Retail Congress. Apesar de todas essas atividades, mantém uma agenda de palestras intensa.
Atualmente, a Magazine Luiza tem mais de 1000 lojas em todo o Brasil e um premiado sistema de e-commerce. Luiza também é conhecida por seus projetos sociais e está à frente do Grupo Mulheres do Brasil, que tem como objetivo pensar propostas ligadas ao empreendedorismo, à saúde, à educação e à inclusão da mulher em diferentes espaços.
Mais recentemente, o Magazine Luiza provocou polêmica ao anunciar um programa de trainees voltado apenas para jovens negros. Por conta disso chegou a ser acusada de discriminação. Em setembro de 2020, Luiza Trajano assumiu o 8º lugar na lista dos bilionários da revista Forbes, a única mulher entre os top 10, tornou-se a mulher mais rica do Brasil.
Fale um pouco sobre a sua experiência com o tema diversidade.
Eu sou do Grupo Mulheres do Brasil. Nele, já havíamos trabalhado alguns assuntos relacionados a diversidade e igualdade de gênero. Criamos comitês para discutir tais assuntos, e o de igualdade racial já tem quatro anos. Eu não achava que existia essa desigualdade tão grande, pois fui criada na empresa da minha ti a, em que havia vários negros trabalhando. Mas chega um dia em que você se confronta com a realidade e vê que o problema é muito mais sério do que você imaginava. Hoje, meu objetivo é furar essa nuvem que existe. É gerar debates para falar sobre igualdade racial, trazer negros para trabalharem conosco e serem premiados pelo seu trabalho, levá-los a relatar as dificuldades que tiveram e aumentar o que eu chamo de nível de consciência. Não adianta estabelecer normas e programas se não conseguirmos aumentar o nível de consciência. Realmente o problema é muito mais profundo do que a gente pensa e vive, então tem que trazer isso à tona para só depois criar programas que possam resolver: programas de seleção, programa de treinamento…
A senhora acha que esse trabalho consistente e duradouro que vem sendo feito ajuda a aumentar o nível de consciência para outros problemas sociais? Vocês têm ampliado esse espectro, não é?
É, sim. Antes de citar o programa de trainee para a população negra, quero citar outro assunto que eu trouxe para o Magazine, a violência contra a mulher. Já tem um bom tempo que trabalhamos a igualdade racial, mas a violência eu acho que não estava tão próxima de mim. Até que, em 2017, uma mulher foi morta num shopping nosso e eu fiquei muito mal, por isso decidi abordar o problema da violência. Criamos a campanha “Dizem que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, mas o Magazine Luiza vai meter, sim.” Nas colheres, estava escrito “#eumetoacolhersim ligue 180 e denuncie”. Vendemos a unidade por R$ 1,80 e repassamos toda a receita das trinta mil colheres vendidas para duas ONGs que combatem esse tipo de violência. E foram os homens que deram essa ideia. Mas a campanha só deu certo porque já estávamos fazendo esse trabalho, e não por estar na moda as empresas trabalharem propósito e ajudarem a sociedade a solucionar os problemas.