Maria Angela: representatividade no streaming
Não é de hoje que a Netflix investe no mercado audiovisual brasileiro. O serviço de streaming começou suas produções originais no país em 2016, com o bem-sucedido lançamento de 3%, mas o objetivo da empresa é muito maior: ela quer ser ainda mais influente no Brasil. Para tal façanha, conta com o talento de Maria Angela de Jesus, Diretora de Produções Originais Internacionais da Netflix no Brasil.
Mulher negra e filha de nordestinos, a executiva tem uma visão apurada sobre o racismo estrutural e em seu ambiente de trabalho costuma deixar claro que não se trata de uma questão social, mas sim racial.
Ela expõe um pouco mais sobre sua visão na entrevista a seguir:
Mulher negra e filha de nordestinos, quais foram as principais barreiras para chegar ao cargo que ocupa hoje?
Desde pequena minha mãe me ensinou algo que sempre me norteou: eu posso sempre conquistar mais. Ela sempre acreditou em mim! Acho que ter tido essa base inicial me ajudou muito. Outra coisa muito importante foi que eu sempre demonstrei essa paixão e essa vontade de crescer, as pessoas viam isso em mim e me ajudavam. Enfrentei dificuldades, sim. Era uma menina negra, que estudou em escola pública e foi a primeira da família a entrar para a universidade, passei por situações difíceis logo que me mudei para São Paulo, mas sempre busquei ampliar meu conhecimento e minha formação. Fui aprender outras línguas, busquei cursos na minha área e assim fui moldando meu perfil profissional. E sempre li muito, desde pequena. Acredito muito no conhecimento como base primordial do crescimento profissional.
Sua visão sobre racismo estrutural é bastante apurada. Como a senhora reage quando se depara com essa questão no cotidiano?
Nos últimos cinco anos eu comecei a falar abertamente sobre o assunto. Quando eu, uma executiva em cargo de liderança e profissional com muitos anos de experiência no mercado, exponho essas situações, deixo claro que não é uma questão social, mas sim racial. E foi por isso que eu me conscientizei da importância de falar mais sobre isso, participando de palestras e painéis que discutem a questão, inclusive porque ao me expor dessa forma outras pessoas conseguem se enxergar em mim e ver que existem caminhos e alternativas. Isso é representatividade. Nós precisamos nos ver refletidos na sociedade. É isso que nos leva adiante. Cada vez que um jovem negro vê um profissional negro crescendo na carreira, isso pode inspirá-lo a buscar o mesmo caminho, a não desistir dos seus sonhos, mesmo diante das dificuldades e barreiras, que são muitas, nós sabemos.