Morre em São Paulo 1ª Deputada Negra do Estado

Acabamos de perder uma das figuras mais emblemáticas e batalhadoras das causas democráticas, educacionais e raciais do Brasil – Dra. Theodosina Ribeiro. Era uma lenda viva e exemplo de militância, consciência política, racial e de gênero. Conhecida e reconhecida até os dias atuais pela sua seriedade e serenidade na luta por igualdade em nossa cidade e em nosso país.

Nascida Theodosina Rosário Ribeiro no ano de 1930 (a data exata pouca gente conhece pois detestava informar sua idade), entrou para história de São Paulo pela porta da frente. Além de professora, diretora escolar e advogada, foi a primeira vereadora e deputada estadual negra da cidade e do Estado de São Paulo. Elegeu-se vereadora em 1970, anos duros da ditadura militar que imperava no país, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição, tendo obtido a segunda maior votação da cidade. E quatro anos depois elegeu-se deputada estadual.

Era uma democrata por natureza, militante histórica do movimento negro e reconhecidamente uma excelente educadora, além de lutar tenazmente pelas causas femininas, em particular das mulheres negras.  “…participei de muitas comissões, sempre preocupada com as questões sociais, como a situação das mulheres e dos negros. Principalmente da mulher negra, já que ela sofre preconceito por ser mulher e por ser negra. E ganha menos do que os homens e menos do que as mulheres brancas.”, afirmou ela, em uma entrevista, quando indagada sobre seu desempenho como vereadora na Câmara Municipal de São Paulo.

Enquanto educadora, sempre se orgulhou da profissão escolhida. “Eu ensinava todas as matérias no primário e depois passei a ensinar história no ensino médio. Fiz concurso e me tornei diretora, que considero um cargo político, já que as diretoras fazem muita política, no bom sentido da palavra “política”. Theodosina tinha consciência clara da importância da educação e do seu papel enquanto educadora e mais ainda como gestora pública.

Apesar da idade avançada (tinha quase noventa anos), continuava ativa e participante até dos dias atuais, em campanhas e ações em prol do movimento negro, a exemplo da campanha pelas cotas para negros no ensino superior, em que afirmava que “O País tem uma dívida histórica enorme com os negros, que após a “abolição” – essa abolição deve vir entre aspas –  da escravatura foram abandonados.” 

Por seu significado, por sua importância histórica e por sua trajetória de vida exemplar é que a Revista Raça, publicação da qual ela era uma defensora árdua,  saúda a Dra. Theodosina; “Mulher ímpar, tive a honra de entrevistá-la gozando de muita saúde e com muita humildade nunca esquecia de lembrar que entrou para a política pelas mãos do então deputado Adalberto Camargo, um período difícil da vida publica brasileiro, anos 70, auge da ditadura militar” – palavras de Mauricio Pestana CEO da revista RAÇA, com a certeza de que sua luta servirá e muito de exemplo para os dias atuais, onde a insensibilidade, o racismo e o desprezo pela educação tem se transformado em rotina.

Salve, salve, Dra. Theodosina, a senhora merece e São Paulo e o Brasil agradecem.

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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