Movimento negro entra na justiça contra Zara por caso de racismo em shopping de Fortaleza
A ação também pede que a empresa adote medidas para corrigir protocolos de abordagem de segurança, revisar contratos com empresas terceirizadas e investir em instituições negras de combate ao racismo
Entidades do movimento negro estão movendo uma ação judicial contra a rede de lojas Zara, por dano moral coletivo, informou nesta manhã o portal UOL. O site teve acesso exclusivo à ação que pede indenização de R$ 40 milhões.
A Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes) e o Centro Santo Dias de Direitos Humanos são os autores da ação, que pede R$ 40 milhões por dano moral coletivo. Essas são as mesmas ONGs que assinaram ações por casos de racismo que também tiveram destaque no país, como o ocorrido com a foto da XP/Ável, Carrefour, Atakarejo e outros.
De acordo com o UOL, além da indenização em dinheiro, que será destinada ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos, vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública Nacional do Consumidor, a ação reivindica que a Zara adote uma série de medidas. Entre elas:
Revisão dos contratos de terceirização da segurança para exigir rigoroso treinamento dos seguranças e supervisão permanente das suas atividades;
Revisão imediata dos protocolos de abordagem de segurança no interior das lojas;
Apoio a instituições de ensino, liderado por pessoas negras, distribuídas pelo país para formação profissional de jovens negros e negras, com fornecimento de bolsas de estudo; Investimento de parte do lucro anual em instituições negras de combate ao racismo em diversos segmentos, como educação e cultura;
Criação de um programa de ações afirmativas, com representatividade e proporcionalidade nas estratégias; Representação de pessoas negras em seus conselhos consultivo e administrativo;
Contratação de auditoria externa independente para verificação permanente do cumprimento das obrigações a serem impostas.
“Entendemos que isso tudo está dentro do contexto discriminatório que acompanhamos nacionalmente. Não é um ponto isolado da Zara. Existe uma posição do comércio, especialmente das lojas situadas em shoppings, em lugares ‘sofisticados’, em que há evidentemente uma política de branqueamento da clientela”, afirmou o advogado que representa as entidades na ação, Márlon Reis.
Na terça-feira (14), a delegada e diretora-adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis, Ana Paula Barroso alega ter tido sua entrada barrada em uma loja de roupas no Shopping Iguatemi, em Fortaleza (CE). Barroso tentou entrar na loja da Zara, quando foi abordada por um funcionário que alegou “questões de segurança”. Ao solicitar informações sobre a conduta do funcionário, a delegada alega não ter sido “autorizada” a entrar.
Inicialmente, após a denúncia realizada pela delegada, a loja se recusou a entregar as gravações. No último domingo, a Polícia Civil fez a apreensão dos equipamentos de registro de vídeo por meio de autorização judicial e vai estabelecer a investigação do caso.
A Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza instaurou um inquérito para investigar o suposto crime.
Zara afirma que problema foi com máscara
Representantes da Zara informaram que o funcionário da loja barrou a entrada da delegada Ana Paula Barroso porque a mulher tomava sorvete no momento em que estava entrando na loja e usava a máscara de maneira inadequada, o que contraria os protocolos contra a Covid-19.
A diretora-adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis da Polícia Civil do Ceará conta que questionou o funcionário se sua entrada seria impedida porque ela estava tomando sorvete, mas Ana Paula diz que o homem teria repetido inúmeras vezes que era uma determinação do shopping, sem explicar o motivo.
Ana Paula relata que procurou a equipe de segurança do shopping para relatar o que estava acontecendo e afirma ter questionado se foi barrada por estar comendo, segundo ela, três seguranças do shopping responderam que não havia qualquer determinação nesse sentido. Em seguida, a mulher voltou à loja com o chefe da segurança e o gerente teria confirmado a versão da delegada.
Em entrevista para O Globo, a delegada contou que o gerente da loja ainda tentou se justificar dizendo que não tinha preconceito: “Ele se desculpou, tentou [se] justificar [dizendo] que tem amigos negros, amigos transexuais, disse que não tem preconceito. Eu respondi que aceitava as desculpas, mas o chefe de segurança me falou que precisava fazer um relatório, no qual constaria que o atendente confirmou minha versão. Só depois desse relatório e de falar com amigos e família é que ficou clara a situação de racismo na minha cabeça”, conta.