O velho normal: brancos no poder

Por mais que se afirme que a desigualdade é perniciosa para o país,  que o racismo trava o desenvolvimento  da sociedade e que a discriminação  e o privilégio acentuam o conflito, da Promoção da Igualdade Racial. As únicas exceções  foram os Ministros/as Gilberto Gil, na Cultura, Benedita da Silva na Assistência Social, Orlando Silva nos Esportes e Marina Silva no Meio Ambiente. Fora daí, tivemos Pelé, como Ministro dos Esportes. O Brasil continua insistindo: o poder é branco e de  mais ninguém.

Isso não é discurso de um ativista  ressentido ou que só vê o mundo pelas lentes raciais. Isso é a escandalosa realidade brasileira.

Uma verdadeira vergonha para um país que possui 54% de sua população de origem negra e que suas  autoridades maiores afirmam que por aqui está vigente  a democracia racial.

No Poder Judiciário é onde essa ausência negra se  faz presente com maior força e nitidez. Se tomarmos  como exemplo o Supremo Tribunal Federal, os  dados são arrasadores: Dos 298 ministros que por lá passaram, nos últimos 191 anos, apenas três foram  negros: Joaquim Benedito Barbosa Gomes, Pedro  Augusto Carneiro Lessa, Hermenegildo Rodrigues  de Barros, coincidentemente todos mineiros. Isso  representa 1% do número de ministros que passaram pela corte. Pergunto que nome podemos dar a isso?

O Poder Executivo brasileiro, também não fica de  fora dessa reserva de mercado racial. Para ficar só no  exemplo do Governo Federal, e analisando apenas  os Governos progressistas (Lula e Dilma) que foram  aqueles que trataram essa questão de forma mais  aberta, os números são desoladores. Dos mais de 200 ministros que ocuparam cargos na Esplanada  dos Ministérios, nos dois mandatos, apenas 10 foram  negros, representando menos de 5% do total e, ainda  assim, ocupando quase sempre o cargo de Ministro no Governo FHC.

No Governo atual, então, a situação é quase semelhante  ao período escravocrata. Nenhum negro no primeiro  escalão e a política anti/negro é proclamada abertamente  e, o que é pior, contando com a participação lamentável  de alguns negros/as que fazem o papel de capitães do mato, de forma vergonhosa.

Mas, o racismo brasileiro é tão bem estruturado, que  os dados apresentados pelo setor público se repetem de  forma quase que idêntica no campo privado. Nas 500  maiores empresas privadas do país, apenas 4% possuem  negros em seu corpo diretivo.

Para mim, esses dados revelam que a luta contra o  racismo no Brasil, mais do que nunca, precisa ser  ampliada, fortalecida e agregadora. Sem que tenhamos  firmeza, unidade e aliados, particularmente os não  negros, para que enfrentemos esse quadro dantesco de  desigualdade, dificilmente seremos vitoriosos.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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