“Pobre também pode estudar fora”
Única negra em universidade Japonesa
“De Itaquera pra atual universidade número um do Japão! Me formando de kimono e afro”. Foi com essa legenda em um post do Twitter que Marina de Melo do Nascimento, 29, viu sua formatura do mestrado em História na Universidade de Tohoku, uma das mais conceituadas no país oriental, repercutir nas redes sociais nos últimos dias. Única estudante negra da área de Humanas na instituição de ensino japonesa, Marina escreveu uma dissertação, em inglês, sobre Kishida Toshiko (1863 – 1901), uma das primeiras feministas japonesas, e seus escritos em revistas femininas em uma época que as regras patriarcais no país oriental eram bem mais rigorosas.
“Ela foi uma das primeiras mulheres a estudar em escola púbica e fazer ensino superior em Kyoto, foi escolhida para ser tutora da imperatriz na época”, diz. “Só que ela não gostava da vida no palácio, se aproximou de um movimento popular pela liberdade e foi convidada a dar palestras sobre a vida das mulheres no Japão. E chegou a ser presa por questionar as regras.”.
De Itaquera ao Japão
Moradora de Itaquera, zona leste de São Paulo, até os 15 anos, e formada em Letras na USP, Marina tem fascínio pela cultura japonesa desde pequena, quando embarcou na febre dos desenhos japoneses que apareciam na TV brasileira entre os anos 90 e 2000. A mãe a incentivava a consumir tudo da cultura do país. No ensino médio, Marina trabalhou em uma papelaria em que os donos eram japoneses e também a estimulavam a aprender o idioma. Fora do ambiente familiar, no entanto, o acesso à cultura japonesa não era tão incentivado, e o racismo tem tudo a ver com o que Marina e outras pessoas negras passam quando se aproximam dos símbolos e produtos do lugar. “Uma vez, um professor não me aceitou no curso de japonês porque disse que eu não tinha a ver com a cultura e, por isso, não tinha por que eu aprender. Minha mãe foi lá e disse: ‘Quem é você para dizer o que minha filha pode aprender ou não?'”.