Raça Indica

Nesta edição, os livros sugeridos são: Balada de amor ao vento, de Paulina Chiziane e Contos Negros, de Ruth Guimarães. Além dos livros, o “Raça Indica” também o filme nigeriano,  “Na batida de Lara”. 

 

Parte os livros sugeridos nesta coluna, também estão sendo transformados em episódios de podcast. Já estão disponíveis episódios sobre o livro O Beijo na parede de Jeferson Tenório,  O Caminho de Casa de Yaa Gyasi e Dois Amores, de Paulo Lins. 

Para acessar, basta visitar a página do podcast Mundo da Rua: https://anchor.fm/mundodarua 

Balada de amor ao vento, de Paulina Chiziane 

Não me canso de apreciar a genialidade de algumas escritoras negras. Na  minha lista das 10 preferidas, Paulina Chizine, autora moçambicana que entrega um texto envolvente a cada página, está no topo. 

Em Balada de amor ao vento, Paulina Chiziane apresenta uma história de amor, às vezes de amor pelos outros, pelos filhos, pela família, às vezes de amor próprio, aquele necessário para sobreviver. 

Publicado pela primeira vez em 1990, Balada de Amor ao Vento correu o mundo e descreve os encontros e desencontros de um casal, Sarnau e Mwando, ao longo do tempo. São tantos desafios que a única coisa que a protagonista Sarnau deseja, ou me fez pensar que deseja, é a paz. Um amor apaziguador, aqueles que só encontramos, acho eu, em um coração cansado. Como pano de fundo, estão os conflitos internos e externos, os juízos e a moral impostos pela cultura, a esperança e a fé. 

Como a própria autora faz questão de enfatizar, não se trata de um romance. O livro é uma contação de histórias que Paulina Chiziane ouviu à beira da fogueira e que usa como inspiração ao escrever livros como esse. 

É exatamente essa a sensação ao ler a obra da autora moçambicana. Você realmente se sente à beira de uma fogueira. Um dos momentos mais emocionantes está no capítulo 11 (o livro tem 20 capítulos, divididos em 149 páginas), quando o menino-rei nasce, abençoado e banhado pela luz da lua, tem seu corpo iluminado tal qual a prata. Relendo o livro para escrever essa sugestão, imediatamente lembrei do ator José Hilton Santos Almeida, mais conhecido como Hilton Cobra ou Cobrinha, na abertura do filme Bluesman, do Baco Exu do Blues  . 

O livro está disponível em português e pode ser encontrado em livrarias e também nos sebos, inclusive os virtuais. Li a 2a edição, impressa em 2007, pela Caminho Editorial, de Lisboa, que conta com ilustração de capa de Malangatana, denominada “Primavera Radiosa” (1995).

Contos Negros, de Ruth Guimarães 

Que escritora primorosa. Que livro lindo. 

Quando sugeri o livro A Cor Púrpura, de Alice Walker, aqui nesta coluna, disse que não tinha adjetivos suficientes para ofertar naquele momento. Se passa o mesmo agora.

Lendo o livro de contos de Ruth Guimarães (1920-2014), sem querer, percebi que faria todo sentido sugeri-lo junto com o livro de Paulina Chiziane, na medida que as duas agraciam, de diferentes maneiras, histórias que brotam da cultura popular, que são passadas e reconstruídas por muitos contadores de histórias ao longo do tempo. 

O livro publicado pela Faro Editorial em 2020, com 128 páginas, é parte dos originais escritos pela autora na década de 1980. Nesta obra que só pode ser publicada agora, pós-morte, os textos são apresentados em quatro capítulos, 15 contos, divididos em: Mitos iorubanos; Cosmologia afro-brasileira; Três contos de exemplo e Os animais na mitologia afro-brasileira. 

Antes de viajar  por eles, é preciso dedicar um tempinho para dois dedos de prosa com a autora. Sim, isso mesmo! Logo nas primeiras páginas, ela introduz o livro convocando o leitor para essa conversa. A cada conto, também apresenta elementos para compreender melhor as origens de cada conto. É um trabalho de pesquisa primoroso. 

A diagramação também tem um destaque. O título está em alto relevo na capa e, no interior, Osmane Garcia Filho apresenta uma composição atraente, em preto e laranja e grafismos. Vale a pena acessar a versão impressa. 

Ruth Guimarães está entre as principais escritoras brasileiras de seu tempo. Com mais de 20 publicações, passou por romance, crônica, conto, ensaio, poesia e tradução. Foi também filósofa e jornalista. Ocupou a cadeira de número 22 da Academia Paulista de Letras. 

Na Batida de Lara, de Tosin Coker

Na sinopse disponível no Netflix, plataforma de streaming que exibe o filme, dá apenas para saber que ele fala sobre a história de duas irmãs ricas, acostumadas com um vida de glamour e que acabam perdendo tudo. A partir daí, buscam um recomeço por meio da música e dos negócios. 

 

Como tenho lido e assistido filmes produzidos por pessoas de diversos países do continente africano, apesar da pouca informação, resolvi assistir ao filme de Tosin Coker e fiquei impressionada como, de maneira simples e nollywoodana (indústria nigeriana de cinema), ele apresenta duas personagens muito distintas que vão encontrando estratégias de sobrevivência, revendo conceitos e, sobretudo, se conectando entre si, com sua comunidade, amigos, família e país.  

De forma inesperada, elas se veem pobres depois que a empresa da família passa sérios problemas, que elas certamente desconheciam, na medida que pouco se interessavam pelos negócios da família e apenas desfrutavam das riquezas geradas. Discussões sobre lisura e integridade são abordadas a todo momento nesta obra.

 

Aí que tudo começa. Elas precisam ir ao encontro de si mesmas e resgatar na memória todos os aprendizados do passado para se firmarem como empresárias e definir o rumo das próprias vidas. 

 

O filme nigeriano é de 2018, tem 2 horas e 20 minutos e estrela Seyi Shay, Somkele Iyamah e Vector. O filme foi aclamado pela crítica daquele continente e indicado a prêmios e atraiu uma bilheteria de mais de 30 milhões de espectadores. 

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Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.

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