Quando comecei a ler poesia, o que mais me encantava eram os sonetos. Aqueles com métrica perfeita e lindas palavras de amor. Muitos foram musicados e, por isso, pareciam ainda mais interessantes para mim.
Com o tempo, já acompanhando o circuito de saraus, descobri que a poesia é muito mais e que ela salta da boca dos poetas com amor, com raiva, com leveza, doçura e indignação.
O livro de poesias de Edson Lopes Cardoso, lançado neste ano de 2021, pela Quarteto Editora, sob o título “Intimações do desumano”, me fez pensar sobre como reajo ao que vejo todos os dias. Acho que foi um pouco isso que o professor, intelectual e poeta Edson Lopes Cardoso entregou nesse livro: uma resposta contundente em forma de poesia.
São mais de 40 poemas, cujo olhar atento do autor não deixa escapar a marca do racismo, da passabilidade da branquitude, mas também da insurgência e da resiliência negra.
No poema Marapicu, ainda nas primeiras páginas do livro, Edson Lopes Cardoso conclui: “[…] Apesar de todos conhecerem o Mal, que exaltam e enaltecem, genocídio é quase sempre palavra imprevista.”
Daí para frente é só pedrada. Fui automaticamente lembrando do que vi na televisão, do que leio cotidianamente nos jornais e do que passo no meu dia a dia de mulher negra.
É leitura obrigatória para amantes da poesia negra e também para os comunicadores/as, uma vez que, certamente, poderão se encontrar em muitos trechos como o que se lê em “Realidade, aparência e ilusão”, que, para mim, soou como resposta a uma certa festa de uma editora, da edição brasileira, da principal revista de moda do mundo. O próprio autor diz logo na primeira página do livro: “Estava (quase) tudo nos jornais”.
Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.