Rosto de mortes por Covid-19 é negro e idoso
Já são quase seis meses de enfrentamento à Covid-19 e as mortes no Brasil têm um rosto majoritário: homem, negro e idoso. A maior parte das mortes (75%) corresponde a pacientes com mais de 60 anos. Além do trauma de perder um parente de maneira precoce, a morte de milhares de idosos está impactando as finanças dos familiares e a economia do país, em função do crescente cenário de desemprego.
Segundo o IBGE, a taxa de desemprego atingiu 13,3% da população em junho, maior índice desde 2017. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que em 20,6% dos 71,3 milhões de domicílios do país, a renda do idoso representa mais de 50% do total dos vencimentos das famílias. Nesses locais, com renda per capita média de R$ 1.621 por mês, vivem 30 milhões de pessoas. Já em 12,9 milhões de casas — 18% do total de domicílios —, os ganhos dos idosos são a única fonte de renda.
Essas famílias, que têm vencimento médio mensal de R$ 1.533 por pessoa, são totalmente dependentes dos seus parentes acima de 65 anos e formam uma massa de 23 milhões de brasileiros (18,4 milhões de idosos e 5 milhões de adultos, crianças e adolescentes). Com algumas exceções — no caso do recebimento de pensão pelo cônjuge, por exemplo —, quando algum desses idosos morre, o restante da família pode ficar sem provento algum. Na média, domicílios em que há idosos têm renda maior do que aqueles onde não há nenhum, constatou o Ipea.
Considerando as mais de 100 mil mortes já registradas pela doença, dos quais 74% estavam acima de 60 anos, estima-se que, durante a pandemia, a morte de idosos por Covid-19 representa uma queda mensal de R$ 167 milhões na renda das famílias brasileiras.
Um estudo da FGV Social, também com base em dados do IBGE, apontou que 17% dos idosos estão entre os 5% mais ricos da população (quem recebe em média R$ 8.713 por mês); e apenas 4% dos mais velhos estão entre os 40% mais pobres (R$ 53 mensais, em média). A pesquisa explica que a renda mais estável da parcela idosa da população, em comparação com a dos mais jovens ocorre em grande parte por causa de uma maior proteção social, como a aposentadoria e o Benefício de Proteção Continuada (BPC). Via de regra, os contribuintes de baixa renda que não conseguem o tempo mínimo de contribuição para se aposentar são elegíveis para receber o BPC, salário mínimo pago a pessoas com mais de 65 anos e renda familiar per capita inferior a um quarto do salário mínimo vigente. No total, 4,6 milhões de brasileiros recebem o benefício, entre idosos e pessoas com deficiência.
A pesquisa da FGV aponta esse problema: 30% dos analfabetos do país são idosos, embora eles representem 10,5% da população. Já entre os mais escolarizados, com mais de 11 anos de estudo, apenas 5,8% têm mais de 65 anos, de acordo com dados de 2018.