Voto secreto, consciente e estratégico

Eleições 2022 podem abrir a oportunidade para começar a reescrever uma história afrocentrada, justa e sustentável

[EDIÇÃO 240]

Por: Rachel Quintiliano

Em um país demarcado pela discriminação de gênero e pelo racismo, não seria surpresa o desafio da representatividade na política, seja no poder Executivo ou no Legislativo. Discutir o assunto nas vésperas das eleições é algo que não poderia deixar de fazer. Ocupar o espaço desta coluna dedicada à identidade e autoestima com política é mais que fundamental. É urgente! Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2020, pessoas do gênero feminino representavam 53% do eleitorado.

Representatividade similar não se observa quanto à identidade de gênero de candidatos e candidatas para o mesmo ano. A maioria foi de homens, 66% e 34% de mulheres. Infelizmente os dados disponibilizados na página do TSE, não informa a raça/cor do eleitorado, mas em a população negra (preta e parda) sendo mais de 50% da população brasileira, é de se suspeitar que percentual similar possa ser observado no perfil do eleitorado brasileiro segundo raça/cor. Isso pode indicar que a maioria do eleitorado brasileiro é mulher e/ou negra.
Mas o perfil de candidatos e candidatas não condiz com essa realidade.

Em 2020, a grande maioria de candidatos/as, eram homens (66%), contra 34% de mulheres. Do total de candidatos/as, pessoas brancas representaram 48%, pessoas negras (pretas e pardas) 50,01%. Mas, quando se
observa os resultados, segundo gênero e cor, a situação fica mais complicada. Os dados do painel, Mulheres Negras Decidem, indicaram que, nas eleições de 2020, os homens representaram 66,2% dos candidatos (prefeito/a, viceprefeito/a e vereador/a) e 84% de todas as pessoas eleitas. As mulheres, 33,8% entre as pessoas que disputaram e 15,7% que ganharam eleições. Ao olhar mais atentamente as informações segundo raça/ cor, fica evidente que estamos longe da representatividade.

As mulheres negras representaram 6,1% das pessoas eleitas, as mulheres brancas 9,3%, os homens negros 37,5% e os homens brancos 45,5%. Pessoas brancas são as que mais disputam e as que mais se elegem. Será que não é a hora de nos perguntarmos os motivos de não conseguirmos superar esse desafio e eleger, por voto secreto e direto, pessoas negras, especialmente as mulheres negras, que com mais frequência também apresentam propostas para um país mais justo e melhor para todas as pessoas? No exercício da cidadania, o voto consciente não pode deixar de considerar uma análise apurada de candidatos e candidatas comprometidos em enfrentar as desigualdades de gênero e de raça rumo à construção de um país mais equitativo, justo e desenvolvido.

No mar de possibilidades que são as eleições no Brasil, com uma quantidade muito grande de partidos políticos e candidatos e candidatas e muitas tendências políticas, para não desperdiçar o voto é necessário checar referências, desviar das notícias falsas, buscar fontes seguras de informação. É preciso qualificar o voto, por meio da observação e acompanhamento de candidatos e candidatas. Conhecer as propostas de cada postulante, pensar grande e fazer o bom uso cidadão do exercício do voto, um instrumento fundamental para a manutenção
da democracia.

É salutar também pensar na representatividade, no equilíbrio e na equidade e, nesse sentido, fortalecer a presença de pessoas comprometidas com o enfrentamento ao racismo e promoção da equidade, parece estratégico para começar a reescrever a história desse país a partir de uma perspectiva afrocentrada, justa e sustentável.

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